A perfeição da forma: um olhar sobre Wakolda
Palavras-chave:
metáfora, secredo, corpo, alteridade, medicalizaçãoResumo
Ao igual que sua língua, constituída por um sistema de opções entre um conjunto inumerável de possibilidades, cada sociedade tem sua concepção do corpo e ao igual que a língua este corpo se encontra submetido a uma administração social, onde o privado e o público se entrecruzan. O corpo como representação simbólica sócio-histórica é resultado duma construção colectiva que obedece a regras, rituales de interacção e encenações quotidianas; que a sua vez contêm certas anomalias relativas a suas próprias regras. Este trabalho propõe uma mirada do filme Wakolda (Lucía Puenzo, 2013) a partir do uso metafórico do corpo na imagem de sua protagonista, corpo controlado que se constitui em referência implícita a uma sociedade que o define mediante a criação de um homem-modelo e a consequente repressão e correcção do homem-histórico, de acordo a um padrão idealmente construído. O sistema de convenções que define a essa sociedade, constrói paralelamente um “diferente” que lhe possibilita a conformação de sua identidade estabelecendo o limite entre uma “alteridade” e uma “mesmidade” enfrentadas.
A idealização do sujeito “normal”, que tende à perfeição da forma, estabelece que o exterior determina o interior, ao igual que as bonecas do filme, a protagonista é vítima da “normalização” que atravessa uma sociedade medicalizada.